Maroon 5 retorna com um álbum insípido que, de alguma forma, conta com participações de A$AP Rocky, Kendrick Lamar e Future.
Depois do lançamento do “Songs About Jane” (2004), a carreira do Maroon 5 tem sido bastante mista. Para cada grande sucesso, havia sempre um par de faixas ruins em seu álbuns. À medida que a banda afastava-se do pop rock sensual de sua estreia, ela adotava cada vez mais um estilo eletrônico. Seu novo álbum de estúdio, “Red Pill Blues”, apresenta vocais de uma variedade de artistas, mas poucas músicas valem a pena, enquanto muitas provavelmente não suportarão o teste do tempo – ao contrário de singles como “This Love”, “She Will Be Loved” e “Sunday Morning”. A voz de Adam Levine é um dos sons mais onipresentes do pop. Sua voz tem sido sua própria franquia, reiniciando-se ano após ano. O fato de haver uma banda por trás dele, com a formação em grande parte intacta, é um fato que parece surpreender até os fãs da banda. Sim, a banda tem outros membros. A banda sempre teve um toque astuto com o soft rock. Mas infelizmente, a maioria das batidas eletrônicas do álbum não complementa a voz do Adam Levine da forma que deveria. Embora “Red Pill Blues” tenha o mesmo lirismo romântico característico da banda, ele possui um som eletrônico que lembra o The Chainsmokers.
Esse som eletrônico está presente em algumas faixas divertidas, mas na maior parte é decepcionante. Infelizmente, “Red Pill Blues” não mantém a emoção e melancolia profana das melhores faixas do Maroon 5. O estranho título é uma referência ao filme “The Matrix” de 1999, no qual o protagonista deve escolher se engole uma pílula vermelha e descobre a verdade cruel, ou toma a azul e permanece ignorante perante a realidade. No entanto, isso também gerou uma onda de respostas online na medida em que as pessoas se perguntavam se os membros sabiam que “a pílula vermelha” é um termo tóxico inextricavelmente ligado a direita alternativa, também conhecida como alt-right (não, eles não sabiam disso). Uma das primeiras coisas que você notará é a ausência dos dois primeiros singles na versão padrão. “Don’t Wanna Know” (com Kendrick Lamar) e “Cold” (com Future) foram estranhamente colocadas na versão deluxe como faixas bônus. Este álbum não provoca uma mudança radical no repertório do Maroon 5, uma vez que possui o mesmo estilo dos dois últimos e alternam entre temas de desgosto e paixão. Portanto, é um trabalho que permanece fiel à marca do Maroon 5.
Como mencionado, “Red Pill Blues” encontra Adam Levine e companhia longe de suas raízes pop rock em favor da música eletrônica, pop e R&B. É uma rápida olhada no repertório revelará que alguns dos maiores nomes do hip hop atual marcam presença aqui. Entretanto, nenhum deles conseguiu contribuir da maneira esperada. A capacidade de cada música tornar-se familiar em meio ao conjunto genérico de produtores, torna sua escuta cada vez mais desanimadora. Ademais, é incansável a quantidade de vezes que escutamos os falsetes do Adam Levine cantando o quanto ele gosta de determinadas mulheres. Aliás, a maioria das canções possui uma estrutura lírica repetitiva e familiar. Os versos são compostos por rimas simples e os refrões tendem a repetir as mesmas linhas duas ou três vezes. “Songs About Jane” (2004) estabeleceu o Maroon 5 como uma das melhores bandas de pop rock do mainstream, graças às músicas sensuais e melodias melancólicas. Entretanto, este álbum foca principalmente em instrumentos sintetizados e bateria com efeitos adicionais, exalando um tom mais analógico e auto-sintonizado.
Em outras palavras, “Red Pill Blues” fez o Maroon 5 abandonar de vez o som que o impulsionou para o sucesso. Assim como seus dois últimos álbuns, os instrumentos eletrônicos são usados em excesso e a maioria das músicas não possui qualquer profundidade ou emoção. A primeira faixa, “Best 4 U”, rasteja sobre sintetizadores de estilo oitentista, percussão eletrônica, guitarras e batidas de hip hop. Possui um ritmo atraente, mas encontra Levine usando o seu registro superior de marca registrada e, inevitavelmente, o auto-tune. As teclas cintilam com uma dose de humor e ironia; enquanto as guitarras estão aí para te lembrar que elas existem. O efeito total é exatamente tão agradavelmente entorpecente como todo soft rock deveria ser. A própria banda sempre foi profissional e suave, e eles permanecem realmente excelentes neste tipo de som. Mas esse som sozinho, lamentavelmente, não garante o tipo de sucesso nas paradas que o Maroon 5 dita. Para ajudar a escalar os charts, eles colocaram vários compositores do One Direction em sua órbita.
Isso inclui John Ryan, um cara que conseguiu co-escrever impressionantes 27 canções do 1D e também lançou o profano “Wiggle” do Jason Derulo. Ele aparece várias vezes aqui, desde o refrão espiralado de “Wait” ao violão de “Bet My Heart”. O refrão desesperado de “Wait” é um momento particularmente bem construído. Possui um ritmo mais distinto que combina com o tema lírico proposto. Sonoramente, é formada por uma mudança fundamental no teclado, na bateria e nas repetições suplicantes do Adam Levine. Tudo e todos que aparecem em um álbum do Maroon 5 perdem um pouco de sua essência – SZA é o exemplo da vez. De alguma forma, a anarquia que anima o “Ctlr” (2017) se foi completamente. Você se pergunta por qual filtro eles passaram sua passagem vocal para torná-la tão inerte. “What Lovers Do” é um número pop ensolarado parecido com algumas faixas do DNCE. Aqui, a banda faz uma mistura repetitiva de influências retrô, batidas eletrônicas e ritmos funky. Mais uma vez, Adam Levine usa falsetes durante o refrão enquanto SZA tenta complementá-lo.
Você também se pergunta, infelizmente, a mesma coisa sobre Kendrick Lamar, que perambula por “Don’t Wanna Know”. A$AP Rocky, na entediante e sem sentido “Whiskey”, parece igualmente perdido. “E eu era tão jovem, até que ela me beijou como um uísque”, Levine canta aqui. Somente o Future parece adequado nesse tipo de ambiente, conforme ele participa de “Cold”. É essa total falta de libido que acaba tornando o “Red Pill Blues” tão boring. Em “Lips On You”, Levine tenta injetar um pouco de profundidade com apoio de uma boa percussão. Sua atmosfera consegue exalar um clímax diferenciado, ao passo que ele emite vocais mais consistentes. Ele se oferece, de maneira cavalheiresca, para colocar seus lábios em você; a oferta poderia ser mais sexy se a pulsação da programação da bateria e o sintetizador não fossem tão chatos. As coisas ficam ainda mais familiares durante “Who I Am”, uma das faixas mais animadas do repertório. É uma canção pós-disco e synth-pop com outra inesperada seção de rap – cortesia de LunchMoney Lewis.
Da mesma forma, a monótona “Girls Like You” também trabalha sobre fundamentos eletrônicos e maçantes riffs de guitarra. O fraco refrão só reforça a má qualidade da música, que não soaria fora do lugar se estivesse presente no “V” (2014). Em “Help Me Out”, Levine tagarela sob sintetizadores cintilantes com sua voz de cabeça – ele realmente é o treinador perfeito para um reality show como “The Voice”. A última faixa, “Closure”, possui surpreendentemente 11 minutos de duração – um número quase insuportável e excruciante com uma duração totalmente desnecessária, uma vez que não faz jus a isso. Embora seja uma ambiciosa canção de jazz fusion e blue-eyed soul, não possui nada que prenda sua atenção por tanto tempo. Os primeiros 4 minutos incluem vocais de Adam Levine, handclpas e licks de guitarra acústica, enquanto o restante é composto por um longo e enfadonho instrumental. Embora algumas músicas sejam cativantes, as letras não possuem substância real. Como resultado, o álbum é formado por uma série de faixas pop genéricas e superficiais. Basicamente, “Red Pill Blues” é a síntese de uma indústria cada vez mais carente de profundidade.