“24K Magic” possui algumas de suas músicas mais carismáticas; tudo é pegajoso, cativante, mas pouco profundo.
Lançado quatro anos depois do seu último álbum, “24K Magic” mantém suas habilidades pelo qual é conhecido. Com esse registro, Bruno Mars transporta o final dos anos 80 e início dos anos 90 para a atualidade. Sonoramente infeccioso, é um projeto nostálgico que apresenta nove faixas de R&B intercaladas com soul, funk, pop e new jack swing. Enquanto “Treasure” explorou sons dos anos 70, seu terceiro álbum pisa no território funk dos anos 80. Dada a imensa popularidade de “Uptown Funk”, sua colaboração com Mark Ronson, não é surpreendente ver que ele se inspirou em tal gênero para criar esse álbum. “24K Magic” é surpreendentemente curto e, embora não seja a melhor coisa de 2016, possui momentos agradáveis. Enquanto os primeiros estágios do álbum focam no funk, sua maior parte abraça um R&B contemporâneo. Ao ouvir todo o repertório, fica parecendo que o Bruno Mars está tentando se reinventar. Mas a natureza do título se perde no meio do álbum e acaba transformando-se em um arrogância exagerada. Da mesma forma, o tópico universal em torno das mulheres torna-se cansativo e atrevido demais. Mars consegue canalizar lendas como Prince, Michael Jackson e James Brown com facilidade, e destaca-se por conseguir equilibrar vibrações do passado com a música moderna.
“24K Magic” muitas vezes parece uma recriação retrô do “Uptown Special” (2015), do Mark Ronson – o próprio Ronson foi escolhido desde o início como um colaborador em potencial -, com uma diferença fundamental: todos os papéis aqui preenchidos pelo Bruno Mars. Além de alguns trabalhos de produção dos ex-colaboradores Jeff Bhasker e Emile Haynie, o álbum é amplamente produzido pela Shampoo Press & Curl – uma encarnação levemente reorganizada de The Smeezingtons. E como Mars se gabou no pré-lançamento do álbum, não há convidados aqui. A ideia é que ele não precisa de qualquer convidado. Ele se tornou praticamente tudo para todas as pessoas; ele tem credibilidade suficiente para atrair atenção dos votantes do Grammy; ele provoca um exibicionismo forte o suficiente para conseguir uma performance no intervalo do Super Bowl. Recriar a música do passado e trazê-la cinicamente para a atualidade às vezes pode ser complicado. E, de fato, “24K Magic” tem como objetivo recriar uma época e uma vibração para a qual grande parte do seu público nem viveu. Mas de forma autoconsciente, esse álbum consegue tal feito. Ajuda o fato de comprimir todas as personas do Bruno Mars em uma. Ele é um cara obcecado pela estilo retrô e faz músicas excitantes que o seu tio-avô reconhece.
Ajuda o fato do álbum ter pouco mais de 30 minutos e ser meticulosamente sequenciado, e também dele ser um perfeccionista notório. Ajuda o fato de que nos dois últimos anos, o apetite do público por sons que antes eram considerados antiquados demais para o mainstream, aumentou gradualmente. Mas, acima de tudo, ajuda o fato do Bruno Mars ser um artista consumado, o tipo de showman convincente. Se “Uptown Funk” era um fragmento do funk que ele pretendia explorar, “24K Magic” é o rascunho completo: reconstruído de forma mais segura, com cada elemento projetado para agradar mais do que qualquer coisa. Não é história, nem mesmo ficção, é apenas uma diversão momentânea e inofensiva. A faixa-título possui sintetizadores e uma boa dose de bateria eletrônica. É praticamente uma continuação da citada “Uptown Funk”, categorizada como um número de funk, disco e R&B. Um single otimista que abrange uma ampla gama de influências musicais e várias modulações vocais. O refrão, cercado por sintetizadores e linhas de baixo, é extremamente cativante. O estilo de “Uptown Funk” é algo que Bruno Mars adéqua-se perfeitamente, por isso ele projetou uma recauchutagem explícita. O que falta em profundidade, ele compensa com vibrações e, mais importante, seriedade.
Embora podemos ouvir influências de Prince e Michael Jackson em “Chunky”, não é uma música funk tecnicamente forte. Ela contribui para o estilo oitentista do álbum graças aos sintetizadores, mas não cativa da forma esperada. Em “Perm”, Mars tenta fazer sua melhor impressão de James Brown – com bateria, trompete, baixo e guitarras. No entanto, as letras não são inspiradoras, uma vez que possui sentimentos mais mundanos. Assim como as outras faixas, ela gira em torno de ser autoconfiante com as mulheres. Músicas como “That’s What I Like” e “Straight Up & Down”, por outro lado, arrancam diretamente do R&B dos anos 90. “That’s What I Like”, em particular, é uma fatia deliciosa sobre opulência que tenta canalizar o estilo musical de Boyz II Men enquanto transita pelo hip hop, soul, funk e new jack swing. “Straight Up & Down” possui a mesma sensualidade de “That’s What I Like”, além de possuir um dos melhores vocais do álbum. Quando passamos pela metade do repertório, canções midtempo assumem a liderança – destacada pela mistura incrível de piano e arranjo de sintetizador da fantástica “Versace on the Floor”. Essa canção de R&B fornece um compasso mais lento enquanto é puramente oitentista e excepcionalmente nostálgica.
“24K Magic” é, em última instância, um álbum de décadas porque mesmo tendo raízes fincadas no pop, soul e funk dos anos 80, ainda fornece uma mistura de R&B dos anos 90. “Finesse”, por exemplo, faz uma mistura de new jack swing, funk e R&B aparentemente influenciada por grupos como Boyz II Men e New Edition. O conteúdo lírico não possui qualquer substância, mas o ritmo e a melodia são bastante contagiosos. Felizmente, como muitos cantores masculinos de R&B dos anos 90, Mars consegue transformar letras sexualmente explícitas em algo leve. O restante da canção é encabeçada por sua performance vocal, exibindo sua habilidade de nos levar de volta no tempo, seja para os anos 70, 80 ou 90. O instrumental realmente nos leva de volta ao passado, principalmente por causa da constante linha de bateria. A balada de encerramento, “Too Good to Say Goodbye”, que abrange a seção mais lenta do álbum, é bastante padronizada e talvez a única que não soaria fora do lugar se estivesse presente no “Doo-Wops & Hooligans” (2010) ou “Unorthodox Jukebox” (2012). Sua produção exuberante acabou trazendo o lado mais sensível do Bruno Mars à tona – é definitivamente outra recriação fiel do R&B dos anos 90. Em suma, todas as faixas do álbum usam e abusam de um estilo excessivamente estático e nostálgico.